quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Dois pedaços de mim

Muito bem. Fim de ano chegando e eu aqui, postando pela última vez em 2010.

Sei que estou devendo alguns textos, já comentei com vários alunos sobre desejos que tenho de comentar escritos seus... e pretendo cumprir com essas promessas em 2011 (isso ficou parecendo promessa de fim de ano).

Entretanto, agora, vim aqui apenas para postar dois poemas meus. Primeiro, porque algumas pessoas me perguntaram se eu não escrevia também, se não iria postar algo feito por mim. E, segundo, porque como já estão prontos, é rapidinho de postar e eu ando meio sem tempo agora - preparando tudo para viajar! hehehe!

Antes de mais nada, preciso apenas deixar muito claro que esses poemas são antigos, são textos que escrevi há quase dez anos. Fazem parte das minhas primeiras tentativas literárias, mas eu gosto bastante deles. Daí, resolvi compartilhá-los:

Sereia-Sol

Você conhece a história
da sereia Janaína?
É a história da sereia
Inconformada com sua sina.
Não queria mais p’ra ela
Aquela vida de menina,
Que deseja, pede e clama
Pelo que não pode ter.
Confinada aos sete mares
Presa à cauda, sua dor
Ela chorava, pranteava
Implorando ao Criador
Que lhe desse, por um dia,
Um minuto, um momento,
Vida nova, mesmo sendo
Pouco tempo a conceder.
Foi ouvida sua história
E atendidas suas preces
A sereia Janaína
Era agora uma terrestre.
Com um belo par de pernas
Pôde então sentir a terra,
Deslizar por entre as matas
E correr junto do vento!
Foi então sentindo a brisa
Escorrendo por seu rosto
Que ela percebeu quão rápido
Era o vento mais que ela!
Fascinada, Janaína,
Quis então ser como ele.
Com tamanha rapidez
E incrível fluidez,
Poderia ver o mundo
Em apenas um segundo!
Janaína fez-se vento
E se pôs logo a voar!
Junto ao céu e as brancas nuvens,
Viu o brilho do luar
E estrelas muito belas
Que a fizeram desejar
Entrar para o grupo delas,
Ter o dom de cintilar!
Lá do alto, lá brilhante,
Poderia ver bastante!
E assim, ficou estrela
Radiante, luminosa,
Realmente esplendorosa,
Era o que queria ser!
Mas foi quando percebeu
Que ao seu redor havia
Mais magia, e o que ela tinha
Não era o mesmo tal poder!
Asteróides e planetas,
Meteoros e cometas,
Eram tantas coisas plenas
Que de tudo ela quis ser.
Mas foi quando viu o Sol
Majestoso, grandioso,
Que a sereia descobriu
Como deveria viver.
Astro-Rei incorporou
E portanto, Sol virou,
Sereia-Sol, feliz ficou;
Ou, então, assim achou.
Quando viu porém a Terra,
Assim de longe, assim tão bela
Desejou voltar a ela,
E ao mar, que era o seu lar.
 Janaína percebia
Que de tanto querer ser
Já não se satisfazia
E nem conseguia viver.
Foi pensando dessa forma
Que a sereia decidiu
Voltar para suas águas
para aquele azul profundo,
Já que agora percebia,
Que deixá-lo não podia
Afinal, aquele mundo
Era o mais belo de tudo!
Janaína então voltou
Novamente sereia,
Novamente com cauda.
Entretanto, não ligava,
Pois enfim compreendera
Quão afortunada era.
Tinha a cauda de um cometa
Que a fazia poder voar
Tão mais rápida que o vento,
Pois p'ra ela, em pensamento,
O seu céu era o seu mar.
E o seu mar tinha estrelas
Estrelas-do-mar, é bem verdade
Mas quem se importa, que bobagem
Ao menos, ela as tinha lá.
E dessa forma, Janaína,
Tão contente em sua vida
Irradiando alegria
Ficou agora parecida
Com um lindo Sol no mar!

Vontade

Às vezes, eu sinto vontade
Uma vontade imensa, gigantesca
Que parece me abocanhar e engolir.
Uma vontade tão inexplicável
Quanto incompreensível.
É uma verdade
Apenas isso.
E essa vontade
Tão sem nexo, tão imprópria
Queima dentro de mim
Como se dissesse:
“Eu estou aqui
E não adianta
Tentar fugir de mim
Fingir que não me sente
Ou pensar que não existo”.
A vontade é forte
E sei bem quem vencerá
Essa batalha individual.
Já não há mais forças para lutar
E o que havia resistido
Foi seduzido por ela.
Ela: A vontade que me divide
Parte-me ao meio
Em razão e emoção.
Mas a razão já se perdeu
A vontade vitoriosa
É aliada à emoção.
Não luto mais; entrego-me
E que essa vontade
Tenha piedade de mim.


 Aí estão. Dois poemas meus, dois pedacinhos de mim. 

Um comentário que julgo interessante... o poema "Sereia-Sol" foi escrito muito antes de eu tomar conhecimento daquele poema chamado "Círculo Vicioso", do Machado de Assis. Os dois textos têm ideias semelhantes e eu nem preciso dizer o quanto me senti poderosa ao ver que tinha produzido um poema que partia de uma mesma premissa do meu autor preferido!

Já no poema "Vontade", algo semelhante aconteceu. Também o escrevi antes de conhecer a fundo Clarice Lispector, antes de me apaixonar perdidamente pela escritora que ela era. Qual não foi minha agradável surpresa ao descobrir que essa autora, que logo tornou-se minha predileta, discorria tanto sobre algo que, para mim, sempre fez parte da minha essência? Razão e Emoção, a razão perdendo, a emoção triunfando... "Pensar é um ato. Sentir é um fato."

Viram só? Desde antes de conhecê-los, eu estava disposta a amá-los. Machado e Clarice. Definitivamente, sempre fizeram parte de mim.


Bom, é isso aí! Desculpem a postagem mais simples, foi só para fechar o ano mesmo! =)

Beijos para todos e um excelente fim de ano!
Até 2011, pessoas!

Camilla.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Palavras de quem entende...

Vou abrir aqui uma exceção e postar o texto de um professor, e não dos meus alunos. Meu colega e amigo, professor Rafael Riemma, é uma verdadeira autoridade no assunto e um apaixonado pelo estudo da Língua Portuguesa. Eu me senti lisonjeada quando soube que ele deu uma passadinha por esse blog e demonstrou interesse em deixar também as suas palavras. Afinal, não conheço tantas pessoas que, como ele, mostram-se tão interessadas em ajudar nossos alunos a criar gosto pela leitura (e esse meu caríssimo professor, inclusive, teve a coragem de escrever livros didáticos para alcançar de mais formas esses meninos). 

Ele manda muito bem na área de interpretação de texto. Isso porque, como professor, ele percebe o quanto falta, em nossos alunos, uma postura correta ao se ler e compreender um texto. Muitos de nossos alunos não percebem o quanto é importante fazer uma leitura adequada de um texto. Não foram capazes ainda de perceber que essa leitura adequada é essencial para prepará-los para uma outra leitura, importantíssima para a vida deles: a leitura do mundo que os envolve. A pessoa que domina a arte de ler e compreender é a pessoa que domina a arte de saber falar, de saber dizer, de se fazer entender. Há bastantes pessoas que ainda não entenderam que, no mundo em que vivemos atualmente, mais importante que ser detentor de conhecimento, é saber utilizá-lo em seu favor. Como fazer isso apropriadamente se o indivíduo possui conhecimento, mas não sabe como passá-lo, como  usá-lo de forma a beneficiar a si mesmo ou ao outro? 


A ferramenta crucial para se obter sucesso nessa empreitada é o bom uso da palavra. Muitos pensam que, por serem falantes da Língua Portuguesa, sabem utilizá-la bem o suficiente. Infelizmente, não é o que ocorre. Mas não vou dizer mais; deixarei que o professor Riemma argumente a respeito desse assunto.

Seguem, portanto, as palavras que ele me enviou para colocar aqui:

“Leitura critica é, sem dúvida, uma das habilidades se que espera de pessoas que se dispõem a ler. A percepção de cada um, as experiências de vida, a maturidade são elementos que influenciam diretamente na capacidade de leitura crítica que se desenvolve. Aprender a ler criticamente envolve desenvolver a capacidade de entender com clareza as ideias do autor. Envolve também passar a avaliar e questionar seus argumentos, bem como, as evidências utilizadas para fundamentá-los, evidências essas gramaticais ou contextuais. Finalmente, envolve a capacidade de formar e justificar as próprias opiniões como leitor. Para ler dessa maneira, é preciso que sejam desenvolvidas habilidades que normalmente não são necessárias quando obtemos informação de forma passiva. É preciso interagir com o texto, percebendo o valor de cada vocábulo selecionado e o poder sugestivo que ele adquire no contexto do texto.

Para Sara Oliveira, as palavras fazem parte do nosso dia-a-dia. Não poderia ser diferente, já que com elas lidamos a todo instante e por meio delas manifestamos nossa identidade, nossos valores e nossas crenças. Nas palavras de Cecília Meirelles, em seu Cancioneiro da Inconfidência, percebemos o valor da palavra:

Ai, palavras, ai palavras,
que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai palavras,
sois o vento, ides no vento,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma!
(…)

A liberdade das almas,
ai! com letras se elabora…
E dos venenos humanos
sois a mais fina retorta:
frágil como o vidro
e mais que o são poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos,
pelo vosso impulso rodam…
(…)

_ e estás no bico das penas,
_ e estais na tinta que se molha,
_ e estais nas mãos dos juízes,
_ e sois o ferro que arrocha,
(…)

O compositor Belchior, em uma de suas canções, Apenas um rapaz latino-americano, já deixou expresso seu sentimento em relação ao poder que as palavras assumem em diferentes contextos:

...Sons, palavras,
São navalhas.
E eu não posso cantar como convém,
Sem querer ferir ninguém.

As palavras conjugadas ou não a sons ou imagens, parecem adquirir vida própria e, dessa maneira, acabam, muitas vezes, nos surpreendendo com os valores e significações que assumem e expressam: insinuam-se, exibem-se e nos envolvem; provocam associações que, por vezes, transcendem a realidade lógica e nos desafiam: “decifra-me se for capaz”, será que me empolguei?! =) Muitos casos nos deixam atônitos, confusos ou maravilhados...

Nossa relação com as palavras vai do amor ao ódio. Com elas afagamos e somos afagados. Injuriamos, defendemos, perdoamos (cuidado com a regência deste verbo!). Elas nos remetem a sentimentos, sensações, desejos. E não há quem não seja por elas afetado. Por isso é importante desenvolvermos PENSAMENTO E LEITURA críticos. Um cuidado muito importante é não deixar que nossas emoções e experiências forcem significações absurdas dentro do texto. Pensar criticamente envolve todas as formas de comunicação: falar, ouvir, ler e escrever. Diferentes teóricos categorizam os elementos do pensamento crítico de diversas maneiras, mas a maioria inclui os seguintes aspectos:

·      Observações: de uma série de observações, estabelecemos fatos.
·      Fatos: dos fatos (ou da ausência deles), fazemos inferências.
·      Inferências: ao testar a validade de nossas inferências, fazemos suposições.
·      Suposições: de nossas suposições, formamos nossa opinião.
·      Opiniões: usando nossas opiniões e os princípios da lógica, desenvolvemos argumentos.
·      Argumentos: quando queremos contestar os argumentos de outras pessoas, empregamos a análise critica.

A postura crítica envolve pesar motivos, analisar tendências, perceber as possíveis leituras implícitas, deliberar em impasses, rejeitar o óbvio, explicar o que parece inexplicável, acreditar mesmo quando não se vê, desenvolver raciocínios além do lugar comum, descobrir o todo das meias-verdades, meias-palavras, outras verdades. Ter pensamento crítico, portanto, significa ser inquisitivo, estar bem informado, aberto a opiniões diversas, ser flexível, prudente ao fazer julgamentos, honesto ao enfrentar parcialidades, seletivo quanto a critérios, focado e mentalmente organizado, persistente na busca de soluções dentro do permitido pelas circunstâncias. Significa ainda saber perceber tendenciosidades e preconceitos, integrar informações, gerar perguntas e alcançar conclusões sensatas – cuidado!, queridos – repito, SENSATAS, isto é, significa exercitar parâmetros que conduzam a posturas democráticas e, tanto quanto possíveis, justas, em nossa vida diária, em nosso meio político e social.

A minha intenção aqui é tentar mostras a todos que trabalhar algumas estratégias que nos ajudem a reconhecer diferenças entre fatos e opiniões naquilo que lemos, perceber argumentos objetivos e subjetivos, separar inferências de evidências, localizar e avaliar o peso de atos, palavras e omissões, avaliar relevância e adequação do que estamos lendo são características muito importantes. Na verdade, é o que nós, professores, objetivamos alcançar com vocês, nossos alunos, seja na escola fundamental e média, seja no curso pré-vestibular, no curso para concurso, seja na universidade. Sem dúvida, pensar de maneira crítica envolve ler (textos e o mundo) de modo crítico. 

Desejo que, segundo um provérbio oriental, vocês estejam aptos a “olhar, ver o que se olha, entender o que se vê, aprender o que se entende e, finalmente, agir com relação ao que aprende”. 

Um forte abraço!
Do amigo e professor,
Rafael Riemma.”

Obrigada pelo super apoio, Riemma! Dá gosto saber que, ao meu lado, tenho um colega profissional que compartilha da minha visão. Afinal, o que queremos não é pouca coisa... fazer esses meninos terem vontade, gosto, prazer de ler? Como somos audaciosos! 

E, quando se luta sozinho, a batalha é sempre mais dura e árdua. Por isso, como é bom saber que tenho um grande parceiro nessa empreitada ambiciosa!


Bom, para quem quiser encontrar o professor Riemma, aqui vai: 


- Twitter: @RafaelRiemma
- Orkut: procurem por Rafael Riemma

Até mais, pessoas! E espero não demorar tanto para as próximas postagens. Mas, caso isso ocorra, não se preocupem. Eu sumo, mas volto. Sempre. =D

Cartas de Capitu

Em 2006, eu dava aulas no colégio La Salle e um aluno, desde o começo, chamou a minha atenção. Lucas Mansur não me parecia ser, definitivamente, o maior interessado em Literatura Brasileira. Sim; ele era um bom aluno, prestava atenção, ia bem nas provas. Mas, como qualquer professor, conseguimos ver um pouco das paixões que os alunos possuem e isso inclui perceber o tipo de matérias com as quais eles têm mais afinidade.

O ano foi passando e Lucas foi ganhando cada vez mais a minha simpatia. Ele era esforçado e obstinado. Percebi que gostava de desafios, afinal ele era obcecado por sempre ganhar o número máximo de estrelinhas nas provas. E, sendo muito dedicado a alcançar suas metas, o Lucas sempre se superava. Foi quando comecei a brincar chamando-o de aluno preferido e ele me retribuía, chamando-me professora favorita.

De qualquer modo, eu me recordo de que, no segundo semestre de 2006 eu passei um trabalho para meus alunos a fim de cobrar deles a leitura do livro “Dom Casmurro”, de Machado de Assis. Como eu falei na última postagem, Machado de Assis e Clarice Lispector são meus autores prediletos. Não pretendo expor de uma vez o porquê dessas paixões; deixarei para ir falando aos poucos. Contudo, aproveito o momento para trazer meu Machado à cena, por meio desse aluno que tanto me marcou.

O trabalho consistia em fazer uma releitura, uma leitura própria do livro. Ora, não é exatamente esse o meu objetivo, sempre? Não me interessa que meus alunos leiam por obrigação, eu quero que eles descubram algum prazer nisso, eu preciso que ele descubram algo de novo, principalmente a respeito deles mesmos, ao ler.

Por isso, eu explorei com eles o fato de que “Dom Casmurro” é uma obra consagrada, mas não pela eterna e famosa questão de Capitu ter traído ou não. O fator psicológico é o que há de mais incrível nesse livro, mostrando, a quem lê, a diversidade de pontos de vista acerca de uma mesma situação. Fiz com que eles mergulhassem nessa leitura, tão interessante, em que eles devem se colocar no lugar do personagem, para tentar compreendê-lo, na mesma medida em que deve permanecer de fora, na tentativa de serem imparciais, detetives, psicólogos...

Com essa finalidade, eu pedi que lessem o livro e, claro, compreendessem a obra, suas implicações e tudo aquilo que se espera de um aluno do Ensino Médio. Mas, como um trabalho especial, eu pedi a eles que me escrevessem a história, resumidamente, é claro, dentro da perspectiva dos outros personagens. Se, ao longo dessa primeira leitura, embarcamos na ótica de Bentinho, como seria essa mesma história, se contada por Capitu, Escobar ou Ezequiel? 

Assim, eu estava propondo a eles uma forma mais interativa de trabalhar com a obra. Lembro de os alunos terem se animado, afinal era algo diferente. Eles escreveriam sua versão (embasada, é claro, em tudo que o livro pudesse proporcionar) e, desse modo, ficariam mais próximos de um grande escritor como Machado. Em grande parte, a ideia era essa. Não acho que seja necessário que meus alunos vejam esses autores como seres de outro planeta. Antes de tudo, eles foram pessoas que tiveram uma ideia, um sentimento, algo a dizer e expuseram em papéis, concretizando em palavras alguma coisa que existia dentro deles e que precisava ganhar o mundo.

É claro que isso não significa desvalorizar esses nomes. Sempre deixei nítido para os meus alunos (talvez até demais) o quanto eu adoro Machado de Assis, o quanto esse autor me inspira, o quanto a análise do ser humano que ele faz é tão absurdamente incrível a ponto de me deixar atordoada quando o leio. Entretanto, penso que aproximar meus alunos desses autores, dessa maneira, seja justamente o caminho para que eles possam compreender seu real valor e significado. Guardadas as devidas proporções, ao tentar escrever como eles, colocando-se em seu lugar, eles percebem mais claramente o que esses grandes nomes realizavam ao construir obras fantásticas.

Pois muito bem, deixando evidente para eles quão altas eram minhas expectativas em relação a esses trabalhos, por envolverem uma das principais obras de um de meus autores mais queridos, permiti que trabalhassem. Ansiava, não posso negar, pelo resultado.

Quando finalmente recolhi os trabalhos, estava curiosíssima. Em casa, não perdi tempo para começar a ler o que haviam aprontado esses meninos.

E eis que o trabalho do aluno Lucas Mansur me chamou a atenção. Em primeiro lugar, ele escolheu falar de Capitu, como se ela houvesse enviado cartas à sua amiga Sancha. Assim como Bentinho teria produzido um livro para registrar sua história, ela o teria feito por cartas. O trabalho, em si, já chamava a atenção visualmente. Seu trabalho eram cartas, em que se percebia o trabalho de envelhecê-las. O papel, queimado nas bordas, amarelado por meio de uma técnica que nem sei qual foi, tinha as letras cursivas bem desenhadas, carimbo com cera de vela, toda uma preocupação em fazer das cartas documentos que lembrassem o século XIX.

Essa parte já me tinha chamado a atenção, mas o conteúdo, ainda mais. Em cartas bem pontuadas, que tiveram o cuidado de situar exatamente a época de cada momento crucial do livro, Lucas recontou a história pela ótica do outro, pela visão de Capitu. Eu tinha dado a eles liberdade de escolher se queriam que Capitu tivesse traído ou não, contanto que apresentassem esse ponto de vista bem fundamentado. 

As cartas de Capitu, do aluno Lucas, seguiram criteriosamente o que eu havia pedido. Não deixaram a desejar. Vou colocar as quatro cartas aqui, para que possam ver por si só (a fim de um maior entendimento e compreensão, seria interessante ter conhecimento da obra “Dom Casmurro”, para poder apreciar devidamente o trabalho do aluno):

“Rio de Janeiro, 20 de Abril de 1865

Querida Sancha,
Aproxima-se o fim do primeiro mês de meu casamento com Bentinho. Sinto-me tão feliz que achei necessária a escrita dessa carta. As palavras faladas podem e têm importância absurda, mas a escrita é uma forma de prolongar ou até mesmo eternizar o que foi pensado. Durante nossas meninices, sempre trocamos juras de um sentimento que só poderia resultar nesse casamento, mas confesso que cheguei a acreditar que assim não seria. Algumas vezes olhei para outras pessoas pensando que a promessa de que só me casaria com Bentinho poderia não ser cumprida. Existe muito amor de minha e, principalmente, da parte dele. Completamo-nos como amantes e como amigos. Sei que não interessa detalhes, mas nossa intimidade, amiga, nos permite. O corpo de meu esposo e o meu formam um só. Quem diria que aquele menino tímido, religioso, cheio de cautelas, que não sabia mentir e que emudeceu ao primeiro beijo, fosse me completar e fazer tão feliz como sou?! Feliz como pessoa, feliz como mulher. Só nos falta um herdeiro para sacramentar essa união, para deixar um regalo a todos. Um filho para que, quando não estivermos aqui, possam apontá-lo e dizer: “este é o fruto do amor de um homem e uma mulher que nasceram um para o outro”. Já me sinto acanhada com essa carta, no entanto, confio em sua discrição.

Abraços.
Capitolina.

Rio de Janeiro, 05 de Abril de 1871

Querida Sancha,
Há quase seis anos que nos habituamos a corresponder confidências que nos saem com mais leveza pela escrita. Tantas coisas boas aconteceram nesse período! Normalmente, confidenciamos felicidades, dúvidas e, nas piores situações, rixas e discussões bobas com nossos maridos. Mas desta vez, temo deixar que alguma lágrima borre o que a pena escreve. Pouco tempo se passou da morte de nosso amigo e de seu esposo, o especial Escobar. Ao ler esta carta, já deverá estar a caminho do Paraná. Concordo que nossa família é o melhor apoio para qualquer momento, mas deixo clara a falta que me fará. Desejo toda a felicidade a você e sua filha, que a dor da perda transforme-se logo em saudade. A partida de Escobar pegou a todos de surpresa. Bentinho está mudado desde o enterro. Alimenta-se pouco, comunica-se menos ainda. Ezequiel já percebeu a tristeza que tomou conta de seu pai, e ele também sente falta de Escobar. Todos sentem, aliás! Espero que, ao chegar, responda-me contando como está seu Paraná, sua família e seus sentimentos. Certamente, ainda estará com a dor no peito, mas a sua dor, a dor de Bentinho, a minha dor e as de nossas crianças passarão brevemente.

Felicidades!
Capitu.



Rio de Janeiro, 10 de Fevereiro de 1872

Sancha,
Fiquei muito feliz com sua última carta. É bom saber que está refazendo sua vida. Com o tempo, quem sabe um novo amor não venha a preencher seu coração? Tudo sem muita pressa, para que a dor cicatrize de vez. Eu, infelizmente, não tenho tido muito o que comemorar. Ainda não sei qual é o problema, mas os sintomas ferem a mim e a Ezequiel. Bentinho está muito mudado! Anda calado e triste pelos cantos, me trata friamente e até seu filho está sendo deixado de lado. Indaguei a ele o que está a acontecer, mas não responde sinceramente. Bentinho nunca soube mentir! Agora penso em colocar Ezequiel em um colégio interno, para que volte para casa apenas aos finais de semana. Não é a excelente educação dada pelo colégio que me fez ter essa ideia, e sim o que posso ver nos olhos de Bentinho: uma repulsa por nosso filho. Que sempre foi ciumento, sabemos, mas chegar ao ponto de não aceitar que eu divida a atenção entre ele e nosso filho chega-se (?) ao egoísmo e possessão. O pior é que nada disso foi ele quem me falou, tudo é a conclusão tirada das muitas horas que perdi tentando achar um porquê para a mudança do homem doce e atencioso com quem me casei. A morte de Escobar poderia ser uma resposta, porém aí a relação com Ezequiel deveria ser mais estreita e amorosa. Meu filho, com aquele hábito de copiar as pessoas, tomou para si traços de seu falecido esposo. Teria algo melhor que um filho recordar-lhe um amado amigo? Bem, espero que na próxima carta já possa lhe contar coisas mais felizes. Não esqueça que a vida segue.

Com saudades,
Capitu.

Suíça, 18 de Agosto de 1890

Sancha,
Gostaria de começar esta que deve ser minha última carta pedindo desculpas. Não tive coragem de responder sua carta há mais de dezoito anos atrás. Hoje, nem sei se ainda vive. Espero que sim e que viva com saúde. Quanto a mim, creio que não devo ficar nesse mundo por muito tempo. Não respondi sua carta porque descobri o que fez Bentinho mudar tanto comigo e nosso filho. Meu marido começou a ver semelhanças em Ezequiel que o remetia a Escobar. Passou a repensar sobre sua vida e me julgou culpada. Tinha em sua mente a certeza de que eu e seu marido, amiga, teríamos traído a ele e a você. Hoje a Europa pode ver que bonito moço meu filho se tornou. Seu pai não nos visita há muito tempo, e se hoje o visse, tenho certeza de que o que ele pensou se confirmaria. Minha amiga, peço-lhe mil desculpas. Há muitos anos atrás, cometi um pecado de que ainda tento me perdoar. Não conseguia ter um filho com meu recém-esposo. Minha vida era boa, mas não completa. Em um ato impensado, fiz-me atraente para seu marido, que não resistiu. Culpamo-nos por muito tempo. Principalmente, ele. Quando tive a certeza da gravidez, afirmei ser de Bentinho o filho, apesar de incerta. Com o tempo, essa certeza veio a Bentinho e a mim. O que fiz não tem perdão, mas tem justificativas. Não queria trair sua amizade, nem o amor de meu esposo. Talvez tenha feito justamente por amá-lo tanto. Depois de minha morte, Ezequiel deve voltar ao Brasil. Bentinho terá a certeza de sua dúvida, contudo o acolherá. Se eu pudesse voltar ao tempo, talvez não fizesse isso. Digo talvez, por saber que o amor me daria coragem de fazer tudo que julgasse o melhor para mim e para Bentinho. Sancha, se puder, perdoe-me.

Um beijo,
Capitu.”

Fiquei comovida com o trabalho. Lembro-me de mim mesma, com uma caneca de café e a caneta na mão, dedos tamborilando na superfície branca da mesa, óculos postos e meus olhos perdidos nessas cartas, que pareciam repousar sobre a mesa, tão leves e tão certas de que mereciam ser apreciadas.

E foram.

Obrigada, Lucas. Por me confirmar como é gratificante ser professora.

A quem se interessar, Lucas Mansur pode ser encontrado no twitter como @lucasmansur.

Até a próxima, pessoas! o/

Uma garota

Meus dois autores prediletos, sem sombra de dúvida, são Clarice Lispector e Machado de Assis. Quem tem ou já teve qualquer aula comigo, deve estar cansado de saber disso.

Por esse motivo, era um tanto óbvio que, em algum determinado momento, eu falaria sobre esses autores nesse blog (que, por sinal, estava bastante parado. Sinto muito, essas coisas acontecem. Mas não pretendo deixar a ideia do blog morrer). Aliás, não pretendo falar deles uma única vez. De qualquer modo, para tudo há uma primeira vez e já estava na hora de começar a falar sobre um deles por aqui.

Para me ajudar, vou trazer uma aluna, para quem dei aula no ano passado. Aluna queridíssima e de incrível talento, tão logo ela começou a me mostrar seus textos, logo me lembrei de Clarice Lispector. Clarice sempre me tocou por escrever o inusitado de forma conhecida e familiar, ou de transformar o banal e o cotidiano em explosões aventureiras e inéditas. O modo como essa autora sabe capturar o sentimento humano, a forma como ela dialoga com a minha alma, o modo como ela me lê sempre me foi fascinante. E ela sempre dizia que apenas escrevia quem ela era e, com a simplicidade dessas palavras, Clarice se tornou um modelo para mim. Quer algo melhor que ler as palavras sem pretensões de uma pessoa que se agigantam diante de quem as lê? Clarice podia não ter essa ou qualquer intenção ao dizer ou escrever isso ou aquilo, mas quer saber? As palavras escritas ganham asas e voam muito além que seu autor poderia imaginar. E eu admiro profundamente quem faz isso. Admiro quem é capaz de escrever uma frase em momento de devaneio próprio e, ao compartilhar essa frase com alguém, seja capaz de tocar o íntimo do outro, fazendo de seu devaneio o devaneio também de outrem. 

A aluna Isabel Gandolfo conseguiu isso. Ela me trouxe textos variados, soltos, escritos em folhas de caderno, sem qualquer pretensão. Veio tímida, veio talvez sem saber ao certo o que esperava ouvir de mim. Veio como quem caminhava sabendo que tinha de trilhar aquele caminho, como se soubesse que tinha de dar aqueles passos, como se conhecesse minha necessidade de ler aquelas palavras.

Ela veio, as palavras dela me atingiram e eu me vi diante da garota Isabel que me tocou como a mulher Clarice. Em suas palavras femininas, mas essencialmente humanas, eu a li, eu me li, eu li a tantas outras pessoas.

Fantástico. Não poderia, portanto, deixar que faltasse algo dessa aluna aqui.

Por esse motivo, seguem alguns de seus textos, para degustação de quem estiver lendo:

"Cinco da tarde
Hoje me permiti sentir um pouco de saudade. Só hoje, e só um pouco.
Mas ela não veio.

...
Ideias, ideias, ideias, ideias. Que me traem na hora de passá-las para o papel. Pergunto a elas se não preferem a liberdade, e eis que me respondem em uníssono:
“-É mais seguro aqui dentro, patroa.”

Queridos sonhos,
Peço que sejam sempre insistentes e perseverantes. Peço que continuem voando alto, e não deixem a palavra  “impossível” se tornar uma barreira intransponível. Que não mudem tanto, que me deixem alcançá-los antes de resolverem trilhar por outros caminhos, e que continuem me mantendo viva.
E acostumem-se com o fato de que um dia vocês deixarão de ser apenas sonhos.

Planos
Foi por isso que eu achei tão esquisito quando você me disse que precisava de tempo pra pensar no seu futuro. Eu já tinha ele todo planejado. A cor das paredes, o quartinho de descanso, o quintal grande, as viagens, o velho farol perto de casa. O que não existisse, eu criaria. O que você não quisesse, eu mudaria. O que tinha de errado com meus planos? Nada. O erro foi meu, de não ter te perguntado se você gostaria de fazer parte deles.
 Agora eu sei.

Divisão.
- Me devolver? Como assim?
- Nada demais. Só umas poucas coisas que ficaram comigo e eu esqueci de entregar.
- Ah sim. Que coisas são essas?
- Alguns sonhos teus. É que se ligaram a mim de tal maneira, que… Achei que fossem meus também.
- Mas não são?
- Mas não são.
(Mentirosa!)

EV
Segurava o homem em meus braços. Dois tiros à queima roupa, e o atirador corria como quem foge do diabo. Uma pequena multidão começa a se juntar à minha volta. Morria o infeliz, e, imagino, sem saber porque. Acorda de supetão e tosse.
- Quando fecho os olhos, enxergo outro mundo. É o paraíso, Doutor? Porque eu fui um homem bom, juro que fui.
 Me vem à cabeça uma porção de pensamentos. Céu e inferno… Conceitos humanos falhos e que não me afetam. Conceitos e pensamentos que tendem para os opostos, para os extremos, para o radical. Não é oito nem oitenta colega, você vai pra uma vala fria e úmida. O depois disso eu não sei, mas finjo. Resolvo não discutir com o moribundo.
- Talvez seja o paraíso sim, mas olha, não sou doutor nenhum…
- Tem exatamente o gosto que eu imaginei…
- De que?
- Sangue.
E morre.

Consenso.
Não existe por aqui.
Cabeça e coração não fazem parte de mim. São seres e criaturas com vida. Moram aqui dentro, mas só por comodidade. É que os dois tem vontade própria. Passam o dia lutando entre si. Não me obedecem.
O coração é assim, meio inconsequente. Me faz cair de joelhos na rua se vê a Lua brilhando mais bonita que o normal. Não se importa com os pedestres e passantes curiosos.
E a cabeça me manda levantar. Manda mais do que pensa, mas pensa mais do que faz.
E eu acabo sendo uma guerra! Uma batalha interminável, um campo minado e uma eterna insatisfação. Uma interrogação, uma vírgula, mas nunca um ponto final.
Me controlam, mas não fazem parte de mim. É meu, mas não sou eu.

Rev.
Laços e pontes que as palavras criam. Um mundo novo a cada palavra lida. Um pedaço seu que eu leio, entendo, e você nem sabe! Um pedaço de uma dor que eu já senti, de um amor que eu deixei, um copo d’água que eu não bebi. Me apaixono por palavras que não me pertencem. Me encontro em palavras que não se destinam a mim. E vejo a possibilidade de me entender, porque te entendo. E vejo isso porque… Tem um pouco de mim em você!

0310
Já transformou minha fortaleza num castelinho de cartas. Agora  faça gentileza de parar de assoprar, por favor.”

Ah, eu poderia continuar colocando aqui mais e mais postagens dessa garota incrível. Mas acho que deu para vocês sentirem o gostinho do que eu queria mostrar. Se desejarem mais, leiam diretamente no blog dela. Chama-se “flor de vento” e pode ser encontrado no seguinte endereço: http://bgandolfo.wordpress.com/

Visitem e deliciem-se. A garota é realmente fenomenal.

Quanto à Clarice, sei que não falei de nenhuma obra específica dela. Tratei mais dos sentimentos e reações que ela causa. Portanto, se for do interesse... alguém se disponibiliza a escrever algo sobre ela? Aceito sugestões sobre que obra se queira comentar.

Quanto à Isabel, para quem se interessar, ficam aqui alguns contatos dela:

- Twitter:  @bgandolfo

- Orkut: procure por “bel Gandolfo”

No mais, estou feliz por ressuscitar o blog. Obrigada pela inspiração, Isabel!

domingo, 17 de outubro de 2010

Por que ler?

Como havia prometido, trago aqui um segundo testemunho. O texto que posto a seguir pertence ao Guilherme Chacon, outro aluno do segundo ano do Ensino Médio (e que, por sinal, é da mesma turma da aluna Francine – post anterior). Achei legal colocar o texto dele logo após o da Francine para que se possam ter dois olhares sobre uma mesma questão. 

Francine, em seu texto, demonstrou um aspecto mais emotivo ao falar sobre a importância de ler, ou melhor, de gostar de ler, sem ter medo de enfrentar as trocentas páginas de um livro. Já o Guilherme traz uma visão mais racional e igualmente importante.

Por que ler? Bem, para essa pergunta, creio que muitos já saibam a resposta. Sim, todo mundo deve saber, de tanto que a suposta resposta para essa questão vive sendo repetida. Pela mídia, por professores, por qualquer pessoa que esteja atento ao que se fala diariamente, mecanicamente, insipidamente por tantos indivíduos.  

Fala-se muito por aí sobre a importância de ler. Dizem que isso é necessário para escrever bem, para se expressar bem. Para crescer como pessoa ou, pelo menos, para passar no vestibular. Exato. Isso é dito o tempo todo, para quem quiser ouvir. E talvez, por falarem demais, as pessoas não escutem devidamente.
Eu fico preocupada, pois sempre me estresso com coisas importantes que são banalizadas. Sei que é importante repetir que ler é importante, mas eu gostaria que as pessoas que falam isso o fizessem de forma menos mecânica, realmente acreditando em suas palavras, e não dizendo apenas porque ouviram alguém dizer e acharam isso bonito. Sabe, eu realmente gostaria que as pessoas que pronunciam essas palavras “ler é importante” o fizessem não para que essa informação entrasse por osmose na cabeça dos outros. Eu queria que essa frase fosse dita por quem realmente tivesse um testemunho a oferecer. Gostaria que quem falasse sobre a importância da leitura, tivesse uma história para contar. Porque só assim, essa informação deixaria de ser vazia, impessoal, distante e passaria a carregar um sentimento. 

E somente assim, essa verdade sobre a importância da leitura alcançaria verdadeiramente as pessoas. Afinal, como poderíamos sentir aquilo que não traz sentimento em si? Mais que uma questão de léxico, certas verdades precisam mais de sentimento em si, do contrário, não poderão ser devidamente sentidas e, por conseguinte, não teriam a necessidade de sentir.

Sim, é disso que sinto falta. De palavras menos vazias. De verdades preenchidas com sentimentos reais. De verdades verdadeiras.

O Guilherme escreveu um texto sobre algo que, para ele, é bem real. Eu sei. Em sala, ele sempre vem me falar ou sobre um livro que está lendo, ou sobre livros que ele quer ler, ou sobre livros que eu poderia sugerir a ele que lesse. 

E eu fico realmente impressionada em ver a velocidade com que ele lê. É daquele tipo de aluno que literalmente devora um livro. E com prazer. Por isso, emprestei a ele um livro chamado Fahrenheit 451, do Ray Bradbury. Eu li esse livro quando fazia meu curso de Letras, em uma matéria que trabalhava a importância de se relacionar Educação e Literatura. Lembro-me de como me senti marcada por ele. Por isso, é um livro que costumo emprestar para alunos que sinto serem capazes de se marcarem por ele como ocorreu comigo.

O livro, para quem quer saber, fala sobre um futuro em que livros são proibidos. Exatamente; uma época em que ler se tornou proibido. E por quê? Porque ler é a principal ferramenta para se criar um ser pensante, crítico. Nesse livro, pessoas capazes de pensar por conta própria são consideradas subversivas e, portanto, perigosas. Chega a ser surreal; quando se descobre, nessa sociedade futurista, que alguém esconde livros em casa, bombeiros são enviados para lá às pressas, a fim de queimarem essas obras. O número 451 refere-se à temperatura (em Fahrenheit) em que o papel incendeia.

Fica a dica de leitura para quem se interessar. O Guilherme, para variar, leu muito rápido. E, por encomenda minha, escreveu um texto no qual ele disserta sobre o porquê de se ler, sobre a importância da leitura na vida de uma pessoa. Ele utiliza os argumentos já conhecidos, mas em suas palavras, é possível ver que ele não é apenas mais um papagaio que apenas repete o que ouviu de outros. O Guilherme lê. E, por meio de ironias e frases de que muito gostei, ele consegue passar essa visão de quem realmente sabe do que está falando:

“Por que ler?

         É cada vez mais comum notar pessoas passarem seu tempo livre vendo televisão, deixando-se levar pelas opiniões que veem nos programas em vez de formular um próprio ponto de vista. Além disso, a facilidade dos fones de ouvido acabou tornando as pessoas reduzidas a um mundo diminuto e limitadas ao que as diverte; perdendo, consequentemente, o senso crítico. Ou seja, as formas de entretenimento mais presentes são, atualmente, as mais fáceis e as mais frívolas (televisão e música). No entanto, é cada vez mais difícil encontrar pessoas que leem - não por obrigação - em seu tempo livre.

         Por isso mesmo é importante ler. A partir do momento que a maioria das pessoas não leem e estão alienados pelos outros meios de entretenimento, ler se torna algo diferencial. Ademais, a mesma diversão que se pode conseguir assistindo televisão ou ouvindo música, consegue-se lendo livros. A diferença é: o que se ganha assistindo TV ou ouvindo música além da diversão?

         Bem, assistir televisão e ouvir música é, com certeza, mais rápido e fácil. Justamente, por causa desse “imediatismo” que as pessoas preferem isso a ler um livro. Realmente, é uma maneira bem divertida de se ficar excluído e perder o próprio senso crítico. 

         Do outro lado, ler um livro é uma outra via, de certa forma oposta, para se passar o tempo livre. Além de todos aqueles clichês, que todos já estão cansados de ouvir - maior vocabulário, melhor escrita, maior contato com culturas diferentes - sobre a importância da leitura, ler é interessante, principalmente, pelo fato de trazer a mesma diversão que uma música ou programa de televisão e, ademais, ativar a mente. Durante uma leitura, há um diálogo contínuo entre os pensamentos e o livro que, no final, estimula o senso crítico e a formação de vários pontos de vista. Além, é claro, de todo o conforto e prazer do momento da leitura. Em suma, ler é uma vantagem perante o resto e é também prazeroso.

            A escolha sobre como passar o tempo livre é individual: ou ficar reduzido à exclusão das massas ou ser diferencial e racionalmente ativo.”

Eu gostei muito do fato de ele mencionar a questão da TV e da música. Por favor, entendam bem. Não estamos aqui discriminando nem uma nem outra. Mas a questão é simples. Ler ainda é uma tarefa que exige mais. Exige capacidade de abstração. Exige a capacidade de a pessoa conseguir ficar bem sem mais ninguém. Sem que haja outras vozes, senão a sua própria. 

Essa é uma das maiores dificuldades em se ler. A maioria das pessoas, nos dias de hoje, tem dificuldades de estarem sós. Algumas pessoas talvez digam que não, que podem perfeitamente assistir à TV sozinhas, ou que gostam de escutar música sozinhas.

Entretanto, a verdade é por esses meios de comunicação, a mensagem, a emoção e o prazer são levados ao seu interlocutor por uma voz ou por uma imagem que já facilitam a recepção desse prazer. Volto a dizer; isso não desmerece o prazer causado por essas formas de entretenimento. Mas são menos difíceis de se obter.

Quando se lê, lê-se realmente sozinho (a não ser que alguém leia para você, mas aí é outra história). É você, e você apenas, entrando em um mundo que somente você pode construir. As frases, as palavras escritas naquela folha terão o peso da emoção que você quiser dar a elas. Os personagens terão o rosto e as vozes que você der a elas. Mesmo que se descreva tudo isso na história, ainda assim, o mundo que você criar a partir da sua leitura será seu, e apenas seu.

E, por ser uma atividade solitária, ao término da leitura, as impressões que lhe ficarem serão suas. Alguém pode até querer vir dizer a você algo sobre o livro, mas ninguém jamais poderá lhe dizer como se sentir após lê-lo. Isso pertencerá apenas a você.

Com tantos personagens e mundos que você, ao ler um livro, é obrigado a construir, você acaba fazendo parte deles assim como eles passam a fazer parte de você. É quando você deixa de ser um e passa a ser vários. É quando se descobre a possibilidade de ver uma mesma coisa por várias outras perspectivas. E isso faz com que você se torne uma pessoa mais crítica, mais reflexiva. 

É uma tarefa árdua, não se pode mentir. Ler é manter-se racionalmente ativo – adorei essa parte do texto do Guilherme, por ser a mais pura verdade, Aliás, ele mesmo definiu com excelência a forma como essa leitura ativa faz do leitor um pensador independente: Durante uma leitura, há um diálogo contínuo entre os pensamentos e o livro que, no final, estimula o senso crítico e a formação de vários pontos de vista.
 
Reconheço que executar esse tipo de leitura dá mais trabalho, mas... aquilo que nos exige mais, que nos dá mais trabalho, que nos força ao máximo que podemos oferecer... não é daí que costuma vir o que há de melhor na vida? 

Por isso, eu gostei do modo racional como o Guilherme quis ponderar as coisas. Ouvir música, ver um filme... isso nos causa prazer, sem dúvidas. Ler um livro também. Porém, com o livro, você deve exigir mais de outras capacidades suas, que devidamente trabalhadas fazem você crescer como pessoa. Logo, há um ganho a mais, fora o simples prazer adquirido.

Por tudo isso, ler é importante.

Simples assim.

Obrigada, Guilherme.

PS 1: Para quem se interessar e quiser entrar em contato com o Guilherme Chacon, procurem por Chacon Guilherme no Orkut.

PS 2: Algumas pessoas perguntaram, então aproveito para responder por aqui mesmo. Sim, esse blog é válido para ex-alunos meus, sejam eles de colégio ou de cursinho pré-vestibular. É só entrar em contato comigo e manifestar a vontade de participar, que eu retorno assim que puder. (de preferência, entre em contato pelo Twitter: @CamillaYoshico)

Até a próxima! =D

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Desperdício de prazer

Para abrir esse blog, trago a contribuição de uma aluna que está no segundo ano do Ensino Médio. A aluna Francine foi escolhida porque ela me trouxe uma imensa felicidade...

Aqui em Brasília, o Programa de Avaliação Seriada (PAS) recomenda a leitura de certas obras, que devem ser lidas pelos alunos ao longo do ano, a fim de se prepararem apropriadamente para esse mini-vestibular. São muitos os livros requisitados, mas me surpreendi ao ver na lista de 2010 a obra Os Miseráveis, de Victor Hugo. O livro é excelente, pertence ao período romântico que é estudado por esses alunos e é simplesmente um dos grandes clássicos da literatura mundial.

Contudo, é um livro grande. Tem por volta de 1300 páginas. Algumas editoras até preferiram dividi-lo em dois volumes, tamanha a extensão da obra.

Por isso, como não podia deixar de ser, para salvar aqueles alunos que por um motivo ou por outro não conseguem ler a obra na sua versão integral, surgem as versões adaptadas, que trazem um resumo do enredo.

Esse resumo pode até ser bastante funcional e, talvez, até sirva de alguma ajuda para o aluno que deseje fazer uma prova razoável no final do ano. Mas, como sempre digo, a leitura do resumo pode ser funcional, mas jamais é tão prazerosa quanto a leitura de sua história na íntegra. E aí, acaba acontecendo o de sempre: o aluno lê o resumo, sabe de que se trata a história, faz a prova... mas perdeu a chance de se apaixonar pela trama, pelo estilo do autor e por tantas outras coisas que evito falar agora, porque quero dar a palavra à minha aluna Francine:

           "Sempre amei ler, e já li vários livros muito bons. Mas nunca pensei que um “livro de escola” ia se transformar em um dos meus livros favoritos. Talvez, ao ler Os Miseráveis, eu tenha tido a catarse mais profunda. E só entende quem leu a versão integral. Sabe quando ao terminar de ler um livro você sente aquela sensação de alívio, de pureza na alma, de leveza? Preciso dizer também que esse livro foi um dos poucos que me fez chorar, me emocionar. Aquele que você precisa parar de ler, pois seus olhos já estão completamente cheios d'água, mas ao mesmo tempo você não QUER parar, pois precisa saber o que está por vir.


             De todas as cenas, a que mais me marcou foi quando Jean Valjean entregou a boneca para a Cosette. Uma cena tão trabalhada, tão cheia de detalhes, tão carregada que você consegue se enxergar naquela sala, ao lado do Jean, vendo o sorriso se abrir no rosto da pequena Cosette e depois se sentir brincando com ela. A sensação de ler a mesma cena na versão resumida foi completamente contrária, mas igualmente forte - de indignação, de não acreditar que uma cena que te comoveu tanto foi assim tão friamente contada. 

             Desapontada, continuei lendo e cheguei em outra parte que eu tinha amado no livro e que, adivinha, foi outra grande decepção. O beijo de Marius e Cosette. Tão perfeito no livro, tão ridículo no resumo. E digo ridículo, porque apesar de ser muito forte, não há melhor palavra. Pareceu que a Cosette estava sendo obrigada a “amar” Marius.

             Jean Vajean foi minha grande inspiração no livro. Como ele muda a si próprio e a todos que estão ao seu lado. Como ele, apesar dos preconceitos da sociedade, dá a volta por cima de todas as dificuldades. Sua honestidade, seu caráter, suas atitudes. No resumo, tudo isso não tinha como ser mais supérfluo. Os atos de Jean Valjean são relatados como se fossem a coisa mais normal do mundo e não dá a possibilidade do leitor de se envolver com ele. É como se fosse outro homem qualquer, agindo como outro homem qualquer, vivendo como outro homem qualquer. E quem leu a versão de 1300 páginas sabe muito bem que tá longe de ser assim.

             E essas 1300 páginas? Resumidas a 100. Toda a essência do romance foi perdida. As críticas foram deixadas de lado, as emoções também. A história veio mastigada. Foi como ler um livro da 4ª série. E o que me impressiona é que muitos alunos do 2º ano do Ensino Médio, que estão prestes a decidir seu futuro, leram esse livro. Pra mim, isso parece absurdo.

             Sobre o que eu senti ao terminar de ler a obra original e o resumo, respectivamente:

1) ficou a estranha sensação de que tudo estava completo, mas ao mesmo tempo vazio. Estava ali uma obra que faz você perceber de uma maneira completamente diferente o mundo ao seu redor; e também um romance que faz você perder seu chão durante semanas.
2) decepção.

             E para explicar a decepção, me deixe exemplificar. Imagine cada livro como se fosse um mar. Os Miseráveis como se fosse uma das partes mais profundas deste. A partir do momento que você perde o medo do desconhecido e mergulha nessa imensidão, a cada olhar lançado consegue se perceber beleza presente por todos os cantos. Mas o mais importante é o que você aprende nesse mergulho: a apreciar a profundidade do mar e a não se contentar com as coisas rasas."

Comecei esse texto dizendo que a aluna Francine me trouxe uma imensa felicidade. É verdade, ela me trouxe um sorriso em meio à tristeza que eu vinha sentindo quando anunciei em sala que os alunos deveriam ler a versão integral de Os Miseráveis. Escutei muitas reclamações, todas ligadas ao fato de a obra ser muito grande. Isso me chateou, porque estava difícil fazer com que eles se abrissem a uma experiência que, eu sabia muito bem, seria gratificante. Se eles ao menos dessem uma chance...

Foi aí que, dias depois, Francine apareceu, vindo atrás de mim - como sempre faz - serelepe e empolgada, dizendo que já havia comprado o livro e que já tinha começado a ler. As amigas vieram junto, confirmando o que ela dizia e acrescentando que ela não conseguia parar de ler, chegando ao ponto de ler enquanto as outras pessoas faziam outras coisas e dando gritos de emoção em certas partes da obra, assustando quem estava ao redor.

Eu sorri com esse comentário, e internamente eu senti que nada estava perdido. Francine me deu a esperança, que estava meio abalada, de fazer com que os outros colegas dele lessem e quiçá se apaixonassem também. 

Dito e feito. Mais alunos leram, mais alunos amaram, mais alunos vieram me dizer o quanto essa experiência foi gratificante. 

Valeu a pena. 
Valeu a pena, principalmente, por ler a metáfora fantástica da aluna comparando um livro ao mar. Eu amo mar, eu amo água e não sei se ela fez de propósito, mas me ganhou com isso. 

Por isso, sei que acertei quando pedi à aluna que escrevesse um texto comparando Os Miseráveis em sua versão integral com a versão resumida. Que fique claro; não é nosso interesse depreciar os resumos feitos por tantas pessoas que se prestam a esses trabalhos, que são árduos, sim. Entretanto, era nosso desejo mostrar quão enganados estão aqueles que pensam que um resumo ou uma versão adaptada substitui a leitura de um livro. 

Estou satisfeita. Acho que o ponto foi alcançado.

Obrigada, Francine.

PS 1: Para quem quiser entrar em contato com a aluna Francine, ela está no twitter: @franvilhena

PS 2: Se alguém tiver interesse em participar desse projeto, entre em contato que eu lhe responderei assim que possível.

PS 3: Importante frisar - Esse blog é feito para divulgar apenas textos dos meus alunos. Por melhores que sejam, não divulgarei aqui textos de desconhecidos, ok?

PS 4: E o meu e-mail para contatos é camilla_shimabuko@yahoo.com.br. No twitter, podem me localizar como @CamillaYoshico. No orkut, procurem por Camilla Shimabuko. Deixem um toque em qualquer desses lugares, dizendo que quer ver um texto seu nesse blog, comentado e revisado por mim. (coisa chique, hein?)

PS 5: Aguardem! Dois novos textos já estão no forno. Os dois alunos já foram contatados e estão em processo de produção de seus textos. Tão logo eles me passarem, colocarei aqui para serem devidamente apreciados...

Até lá! =D

Sobre este Projeto, LEIA-ME:

Meu nome é Camilla, tenho 28 anos e sou professora de Literatura. Sou professora porque amo lecionar e vivo da Literatura porque sempre achei que viver uma única vida seria limitado demais para mim. Aprendi a ser, de forma mais plena, quando comecei a vivenciar outras existências. Assim, eu alcanço outros seres que descubro viverem dentro de mim toda vez que leio um novo livro. Ao ler e contar histórias, eu descubro e redescubro, amplio meus horizontes, torno-me uma pessoa sempre nova... São muitos os benefícios e prazeres que a leitura pode trazer.

Se é assim, por que então é tão comum as pessoas, especialmente os jovens de hoje, dizerem com tanta convicção que ler é ruim? Está certo; alguns dizem que somente os clássicos da Literatura, obrigatórios nas escolas, são ruins. 

Será mesmo?

Recuso-me a aceitar essa afirmação. Os clássicos da Literatura, seja ela brasileira ou mundial, são clássicos por algum motivo válido. Como professora de Literatura, acredito que esse seja um dos meus maiores objetivos a alcançar em sala de aula: explicar o porquê de tal obra ser considerada um clássico, mas mais importante que isso – fazer o aluno não só compreender isso, mas partilhar dessa visão.

Algumas pessoas podem achar que não alcançarei êxito nessa empreitada. Diriam talvez que os adolescentes não tem interesse nesse tipo de Literatura, preferindo os best-sellers que surgem eventualmente. E, a partir desse ponto, é comum surgirem discussões sobre o que é Literatura de fato, o que pode ser considerada boa literatura, o que não pode... Enfim; é uma discussão que se estende por demais e eu não vou entrar no mérito dessa questão. A mim, interessa apenas uma coisa: Se meus alunos têm interesse em ler livros que são recordes de vendas, então nada impede que eles se apaixonem também pelos clássicos.

Não; não é um sonho absurdo, nem um ideal inatingível. Não estou superestimando ninguém aqui. Não desconheço minha realidade. Em minhas aulas, sempre percebo que muitos alunos acabam se deixando envolver rápido demais por esse sentimento de “não conheço e não gostei”. É normal que eles já tenham ouvido falar de autores renomados, de importantes títulos de obras que eles deverão conhecer para fazer a prova do vestibular... E, por conta disso, terminam criando traumas e preconceitos a respeito de algo que nem viram a fundo. Tudo isso, junto ao fato de que os livros remontam, muitas vezes, a séculos passados e utilizam uma linguagem mais refinada, acaba por afastar leitores em potencial dessas obras fantásticas. Se fosse dada apenas uma chance, se vários alunos deixassem-se levar mais pela curiosidade, se a vontade de conhecer fosse maior que esses preconceitos bobos... Quantos livros maravilhosos não seriam descobertos! E como uma disciplina escolar, às vezes, mal-vista e mal-quista, poderia se tornar em um imenso prazer a partir de então...!

Pois bem. Façamos da Literatura uma paixão! Como?

- O primeiro passo é derrubar esses preconceitos.

- O segundo é mostrar que só porque o livro está sendo estudado na escola, não significa que ele tenha de ser ruim, enfadonho, cansativo.

Para obter sucesso nessas duas primeiras etapas, o professor deve trabalhar arduamente em sala de aula. E ele perceberá que está conseguindo o que intenta quando alguns alunos vierem lhe dizer que gostaram da obra, que sentiram curiosidade de conhecer mais a fundo o autor e outros livros dele. Localizando, dessa forma, esses alunos, o professor terá em mãos seu principal instrumento. Não mais será o professor quem dirá que tal livro é bom; será o próprio aluno a testemunha disso tudo. Alunos que se sensibilizarem com a obra, demonstrando realmente entender o valor que ela carrega, permitindo apaixonar-se por ela, identificar-se, aprender, crescer com ela; essas serão as principais ferramentas para que eu possa demonstrar que a Literatura é tão apaixonante como gosto tanto de apregoar.

Uma vez encontrados tais alunos, o passo seguinte é divulgar o sentimento desses alunos para o máximo de pessoas possível, comprovando que o jovem de hoje ainda possui sensibilidade, ainda é capaz de perceber o valor de uma obra do século passado, compreendendo que a leitura é um prazer que independe da época.
E para isso servirá esse blog. Em sala, venho conversando com alguns alunos e pedindo que me mandem textos a respeito de algum tema passado por mim. Desejo, aqui, expor o que eles pensam e sentem a respeito de assuntos diversos ligados à Literatura. É também um espaço em que alguns alunos poderão apresentar seus trabalhos originais (contos, poemas, crônicas...).  Sempre identificarei o aluno autor do texto, deixando, quando possível, alguma forma para quem estiver lendo entrar em contato com ele, caso queira. Mas ressalto que o objetivo do blog é a discussão, é o testemunho do amor pela leitura, é a divulgação das palavras inspiradoras de alunos meus. Mas tudo isso não pode ser visto como o final de um processo. 
Quando muito, isso aqui deve ser um trampolim, um início, um começo de uma carreira que pode ganhar asas se o próprio aluno se esforçar em divulgar e publicar seu trabalho.

Resumindo... Esse blog é uma extensão do trabalho feito em sala de aula. É uma tentativa de valorizar aqueles alunos que já são apaixonados pela Literatura e tentar, quem sabe, atrair mais alguns para compartilharem dessa paixão. 

Espero que esse projeto tenha vida longa... e sejam todos bem-vindos a essa Sociedade das Mentes Escritoras.