Este
blog está há tanto tempo parado que, não nego, até eu mesma pensei que ele
tivesse sido abandonado. Não que eu quisesse isso, mas era algo que parecia
acontecer independente da minha vontade. Eu pensava sempre em retomá-lo, em
trazê-lo de volta à vida, mas o momento nunca aparecia. Vida corrida, sempre
corrida, cada vez mais corrida. E o blog ia ficando mais e mais distante, mais
no passado, mais lá atrás...
Seria
preciso um grande acontecimento para sacudir a poeira e tirar o blog desse
estado letárgico. E, bem... Quem diria? Eis aqui o grande acontecimento:
Hoje é
aniversário de uma aluna fantástica, chamada Isadora Pires Egler. Tive a feliz oportunidade
de conhecê-la ano passado. Infelizmente, não pude estar com ela e seus colegas
até o final do ano, pois meu bebê nasceu e precisei sair em
licença-maternidade.
Mesmo
assim, com o pouco tempo de convivência, eu tinha já percebido que Isadora era
uma aluna diferente. Ela não era muito falante, não me recordo de ouvir sua voz
em sala de aula, mas isso nunca foi o mais importante. Há alunos que não
precisam falar; há aqueles cuja presença é tão significativa que o simples ato
de estarem ali já faz toda a diferença. Eu observo e analiso muito cuidadosamente
as feições dos meus alunos. Vez ou outra, deparo-me com um olhar único, que chama
minha atenção.
Sou do
tipo que acredita na força de um olhar. É, eu realmente acho que um olhar pode
valer mais do que mil palavras. Aliás, não só penso assim, como já vivi
situações em que pude comprovar a veracidade dessa afirmação.
No caso
de Isadora, essa é uma grande verdade. Uma aluna como ela não precisa falar.
Para Isadora, basta ser. Ser ela mesma. Sua essência é tão poderosa que ela não
tem de se mostrar. Tudo o que ela é transparece, transborda, transita. Pessoas
assim são realmente incríveis. O que elas possuem, o que elas guardam, não pode
ser contido por muito tempo. Derrama-se pelo olhar e toca todos ao redor, envolve
quem estiver por perto. E a impressão que nos passa é que assim deve ser.
Pessoas como Isadora não foram feitas para existirem apenas dentro delas
mesmas. Essas pessoas transbordam de si para inundar outros. Elas têm algo de
muito importante, que deve ser transmitido. Às vezes, impelido. O que importa é
que seja reconhecido. Mais que isso: vivido.
Em um
olhar, eu havia pressentido tudo isso. Sabia que Isadora tinha um mundo fantástico
fervilhando dentro dela. Porém, eu sabia ainda em um nível inconsciente. Só fui
descobrir propriamente o quanto essa garota é fenomenal em tempos recentes. É uma
pena, devo dizer, especialmente porque essa aluna maravilhosa está partindo
para dominar outros mundos, mentes, corações. Aos que ficam, restará a saudade
e profunda admiração, sempre.
Como
professora, sinto orgulho em ver uma aluna alçando voos mais altos. Contudo,
esse sentimento é doce e amargo. Não pude deixar de me sentir feliz pela sua
conquista, mas meu sorriso diante da notícia de que ela partiria foi triste. Assim
que soube, imediatamente pensei em todas as minhas aulas a que eu gostaria que
ela assistisse, e que ela não estará aqui para ver. São tantos livros, tantos
autores sobre os quais eu falarei em sala e que talvez despertassem aquele brilho
no olhar dela... Fica a sensação de pensar no que poderia ter sido, mas somente
imaginar, sem podê-lo concretizar.
A
despedida, em pessoa, foi rápida, atrapalhada. Era necessário organizar mais as
palavras. A oportunidade veio agora, em perfeito momento.
Eu já
tinha comentado seus poemas algumas vezes, mas nunca o tinha feito no blog que
eu criei exclusivamente para esse fim. Bem, esse erro está agora consertado. Eu
não só estou trazendo um poema da Isadora para cá, como faço dele o grande
responsável pelo retorno de um blog que, creio eu, tem muito de bom a oferecer.
Espero
que isso dê à Isadora uma noção, por menor que seja, da importância de sua
passagem em meu trajeto como professora. Sua travessia cruzou com a minha de
forma meteórica e, embora rápida, foi realmente fulgurante.
Deixo
aqui para vocês um poema que representa um pouco da sua genialidade. A verdade
é que todos os seus textos são tão absurdamente bons, que se torna impossível
reconhecer tudo o que afirmo aqui apenas com base nele. É preciso ler tudo o
que ela escreve, saborear, vivenciar, sentir suas palavras entremearem sua
pele. É preciso permitir que ela faça parte de vocês, assim como ela já faz de
mim e de todos que conheceram esse seu talento.
"eu tenho que ter calma com as
minhas poesiasque vêm pirracentas se estapeando no carro.
nenhuma quer ir no meio, todas querem janela.
é quase uma briga de egos, uma disputa por ser a mais complexa.
-há aquelas tímidas também, tenho tanta dó-
sempre uma delas pergunta sobre o trajeto
"longe ou perto?"
são crianças mimadas que sempre querem a maior fatia
umas mais velhas, outras mais novas
e ainda outras que de tão recém nascidas
dormem de dia.
é preciso ter paciência
finalmente chegamos. e mais uma luta:
querem todas sair primeiro
mas precisam ser carregadas pelo braço
-eu me mato de cansaço-
em meio à gritaria, penteio cabelos,
aperto gravatas,
amarro laços
-estão todas apresentáveis-
"como são lindas! doces! rosadas! belas!
adoro passar tempo com elas!"
-eles não sabem como dão trabalho-
espalhadas por aí, constantemente amarro cadarços,
procuro pares de sapato.
e ai de mim se disserem algo errado ou mal educado.
vez ou outra, lambem o prato.
pela noite, cercam a cama por todos os meus lados.
dormimos nós abraçados.
apesar de todos os perrengues:
sempre, sempre
quero mais.
fato.
dar à luz uma nova poesia
é, todas as vezes,
um parto"
O motivo da escolha desse poema é que, dentre tantos textos magníficos, esse me interessou pela temática de origem. Isadora é dona de um talento incrível e eu, quando me vejo diante de alguém assim, fico muitas vezes me perguntando sobre o processo criativo de uma pessoa desse naipe. Será fácil? Será difícil? Pelas palavras da Isadora, fiquei maravilhada, porque consegui não apenas obter uma resposta, mas visualizar, tão poeticamente, como seus poemas são criados. A comparação com o nascimento de um filho é tão perfeita, tão cabível, que eu nem tenho o que dizer. Ela já disse. Ela expressou tudo e mais um pouco. Todas as pequenas nuances desse processo foram abordadas. Desde a facilidade com que brotam até a dificuldade com que são preparadas para o mundo. Entretanto, na facilidade do nascimento há dor e dificuldades apenas conhecidas por quem dá à luz. Do mesmo modo, na dificuldade de arrumá-la para o mundo, há a facilidade de que a poesia se torna um ser vivo tão orgânico que quase independe do poeta para se terminar de construir. Belíssimo! Sutil, mas incisivo! Lindamente construído!
Falar sobre a origem também me interessou porque o momento é de fim. A partida, a despedida é um final. Entretanto, que maravilha é poder misturar começo e término, origem e fim! Quando aproximamos esses dois extremos, percebemos que um pode perfeitamente existir dentro do outro. Na verdade, mais que isso, um necessita do outro. Um nasce do outro. Não pode haver fim se não houver um começo e não pode existir um começo se antes não tiver acontecido um final. É um ciclo.
Façamos então desse fim um novo começo.
A partida da Isadora dá nova vida a esse blog.
Muito obrigada por toda a inspiração, Isadora querida!
Seja sempre muito feliz! Seja sempre você!
E, para quem quiser conhecer um pouco mais sobre essa excelente escritora... Visitem sua página no Facebook: ESTESIA DIVERSA.
Passem lá. Garanto que não vão se arrepender!
E é isso aí!O blog está de volta!!!
Beijos, pessoas! ;)