Oi, gente boa! Estamos de volta! Acharam que eu
tinha me esquecido de atualizar este blog? De forma alguma! Mas é
que, com o feriado, precisei resolver e organizar algumas questões na vida
pessoal e na profissional... Daí, a atualização veio atrasada... mas veio!
E veio com força
total! Hoje eu trago a vocês um conto simplesmente fenomenal! O impacto que ele
me causou foi forte e eu quero muito compartilhar essas impressões com quem
acompanha o blog!
Como eu já havia
adiantado a vocês, o conto que transcrevo abaixo me foi entregue por uma aluna
no final da aula. Veio dobradinho em folha de caderno, como um segredo a ser
passado de modo discreto.
Eu acredito que
segredos precisam ser compartilhados assim, com todo um ar de importância, como
se de um pequeno grande tesouro se tratasse. Afinal, segredos são como
delicados presentes que não entregamos a qualquer um. Escolhemos bem o
destinatário; aquele que saberá valorizar o que temos a dizer, compreendendo o
peso dessas palavras...
A literatura me
faz, muitas vezes, sentir que sou portadora de muitos segredos que chegaram até
mim das mais diversas formas. Toda história, romance, crônica, conto, poema é
uma espécie de segredo. É, de alguma forma, um pedaço daquele artista que ele
escolheu compartilhar com seu leitor... e, assim como ocorre com uma pessoa que
acaba de ouvir um segredo, eu me sinto mais próxima do escritor que optou por
se expressar desta ou daquela maneira.
Com este blog,
algo semelhante vem ocorrendo... A cada texto que posto aqui, eu sinto que
descubro um pouco mais desses alunos e ex-alunos, como se uma nova faceta se
revelasse e eu ficasse subitamente sem reação diante de tanto talento! Sim,
desde que me propus a divulgar esses textos, eu imaginava que me depararia com
obras incríveis, mas minhas expectativas estão sendo muito superadas!
A aluna Bia Eira me
trouxe esse conto assim, de forma tão natural e despretensiosa, como se apenas
quisesse me mostrar um texto por ela escrito. Porém, não foi apenas isso o que
aconteceu. O que ela me mostrou foi um mundo inteiro construído em poucas
linhas. Uma narrativa tão envolvente, que tão rapidamente capta nossa atenção e
nos torna testemunhas de sentimentos, relações, afetos que até segundos atrás
desconhecíamos inteiramente. E, de repente, aqueles personagens se tornam
importantes para nós. De repente, eles fazem parte da nossa vivência. De repente,
somos capazes de nos sentir parte daquela história, como testemunhas ocultas de
algo muito importante... Mas, como ocorre quando um segredo tão especial nos é
aos poucos revelado, não ousamos falar, nem nos manifestar; somente
acompanhamos, quase nos esquecendo de respirar, aonde a hábil narrativa nos
levar...
Tentei aqui mostrar
um pouco das sensações que esse conto da Bia me trouxe. Contudo, o melhor que
faço aqui é deixar que essas tão bem traçadas linhas falem por si só.
Mergulhem:
“Alle Welt estava exausta. Tudo que ela queria era
se jogar em sua cama e dormir até o dia seguinte. Mas ainda tinha aquela
maldita festa.
Era aniversário de seu irmão mais novo, e ele daria uma festa para comemorar.
Alle sabia que a queria lá, mas ela estava tão cansada. Não faria mal se ela
não fosse, não é? Ela poderia ir no ano seguinte de qualquer forma.
A garota tinha gostado da ideia, mas seus planos mudaram assim que ela entrou
no quarto e encontrou alguém lá.
— Alle Welt.— o homem disse com a voz rouca, mas potente.
— Quem é você?— Alle perguntou assustada.
O homem a sua frente parecia jovem, com cabelos negros que contrastavam com a
pele pálida, seus olhos eram escuros como buracos negros, e ele vestia uma
túnica estilo Grécia Antiga, também negra.
— Quem sou eu?— ele repetiu, parecendo ponderar sobre a pergunta.— Eu sou o
começo, o fim e o meio. Seu maior desejo e seu inimigo. Um corredor que nunca
para. Eterno e finito. Quem eu sou?
Alle arqueou a sobrancelha em confusão. Aquilo era
algum tipo de charada? Como ele tinha entrado ali? Eram tantas perguntas.
— Muito poético.— a garota disse.— O que faz aqui?
— Estou aqui porque você não deveria estar.— o homem estranho respondeu.
Alle deu um passo para trás assustada. Como ele poderia saber sobre a festa?
— Sei de muitas coisas, Alle Welt.— o homem disse como se lesse a mente da
garota.
— O que você quer?— Alle perguntou, agradecendo por sua voz não ter falhado.
— Você acha que pode deixar tudo para depois.— ele disse se aproximando.— Vim
te mostrar que está errada.
Alle queria perguntar o que aquilo queria dizer, mas não teve tempo. O homem
ergueu um de seus dedos e tocou o ponto entre os olhos da garota.
O quarto começou a girar, cada vez mais rápido até se transformar em nada além
de um borrão. Alle sentiu o chão desaparecer sob seus pés, mas não começou a
cair. Tudo que ela podia ver e sentir era o homem estranho que ainda tocava o
ponto entre seus olhos.
Quando seus pés voltaram a tocar o chão, Alle não
estava mais em seu quarto. Estava em um cemitério.
Ela olhou ao redor, tentando entender o que tinha acontecido, e a lápide a sua
frente chamou sua atenção.
A data de morte era alguns meses depois do dia da festa, e o nome era o do
irmão de Alle.
A garota sentiu um bolo em sua garganta, lágrimas em seus olhos. Naquele
momento ela nem se importou em como tinha chegado ali ou em quão impossíveis
aquilo era. Alguma coisa lhe dizia que aquilo era real.
— O que aconteceu?— ela perguntou com a voz embargada.
— Não foi de doença.— o homem respondeu.— Nem acidente.
Aquilo foi como uma faca invisível enfiada no
coração de Alle.
Ela se virou para o homem, sua visão turvada pelas lágrimas.
— P- por q- que?
O homem não respondeu, apenas tocou novamente o ponto entre os olhos da garota,
e tudo girou mais uma vez.
Quando parou, Alle se viu no quintal da casa de seus pais, onde acontecia a
festa de seu irmão. Ninguém parecia reparar nela ou no homem estranho, apenas
continuavam conversando normalmente.
Alle viu seu irmão junto de seus pais. Os cabelos dele estavam mais longos que
ela se lembrava, chegando a cobrir os olhos. Ele usava um moletom preto, apesar
do clima quente, de forma a cobrir seus braços.
— Ela não vem.— ele disse aos pais.— Nem sei porque eu esperava algo diferente.
Então ele se levantou e entrou dentro da casa.
— Eu não entendo…— Alle disse com a voz fraca.
— Quando foi a última vez que você falou de verdade com ele?— o homem estranho
perguntou.— Quando foi a última vez que você mostrou que se importava? Que
perguntou como ele estava? Se precisava conversar ou qualquer outra coisa?
— Me leva de volta.— Alle pediu chorando.
O homem assentiu, e a garota se viu novamente em seu quarto.
— Eu não vou parar de correr, Alle Welt.— ele alertou.— Pense nisso.
Então ele desapareceu, e Alle começou a correr. Ela não tinha tempo a perder.
Porque ele corria também.”
Que conto fantástico... Literalmente...
E, ao mesmo tempo... Tão real. Tão visceralmente verdadeiro,
concreto, de uma realidade tão palpável que dói.
O que me fascinou nesse conto é que, habilmente, a Bia consegue
dizer muito mais por meio do que ela não diz. O que está nas entrelinhas é o
que mais importa. Com direcionamentos bem elaborados, ela nos leva exatamente
aonde quer chegar. E, quando chegamos, sentimos o impacto.
Brutal? Necessário?
O fato é que, assim como ocorre com os segredos que são
compartilhados conosco, é de grande importância sabermos agir com
responsabilidade acerca daquilo que nos é revelado.
Um papel tão importante da literatura, como eu já falei na
postagem anterior, é o de levantar reflexões, tecer críticas... incomodar. Nem
sempre a leitura vem para o puro entretenimento. Às vezes, precisamos ler
porque necessitamos nos deparar com realidades das quais fugimos. Os livros
são muito úteis nesse sentido. Em meio a uma leitura instigante, somos às vezes
submetidos a um confronto inesperado e preciso. Vários escritores souberam compartilhar
suas visões críticas, reflexões preocupadas, pensamentos filosóficos sobre os
mais inúmero assuntos... E a Bia segue aqui o mesmo caminho já trilhado por
gigantes da nossa literatura... e cumpre magistralmente sua tarefa.
Cabe a seus leitores realizarem sua parte. Refletir, absorvendo
devidamente cada palavra. Lendo com o cuidado e a delicadeza que esse conto nos
pede. Percebendo que a Bia colocou cada palavrinha em um lugar muito
específico, não sem antes ponderar bem. Por exemplo, no trecho: “Eu sou o começo, o
fim e o meio. Seu maior desejo e seu inimigo. Um corredor que nunca para.
Eterno e finito. Quem eu sou?”, a Bia nos deixou material para ser lido e relido
algumas vezes antes de chegarmos à conclusão de que entendemos bem o que ela
queria dizer. Não tenham pressa, saboreiem cada frase, cada construção tão
devidamente encaixada. Perguntem-se: Por que ela escreveu “Eu sou o
começo, o fim e o meio”, em vez do clássico ‘começo, meio e fim’?
Gente,
nada é por acaso...
E eu
não vou antecipar respostas, até porque muito do prazer da leitura se descobre
sozinho. Posso, nesse caso, apontar algumas direções de possíveis leituras...
Mas o caminho vocês devem percorrer por conta própria.
Acreditem.
Vale muito a pena.
E
não deixem para descobrir esse prazer algum dia, futuramente. O momento é
agora. Afinal, como a Bia deixou bem claro ao fim do conto, não temos tempo a
perder. Porque o tempo...
Ele
corre.
Muito
obrigada por uma leitura tão incrível, com reflexões tão importantes e com um
jogo de palavras tão instigante, Bia!!! 💖
Quem
quiser conhecer mais dessa fantástica escritora, sigam sua conta no Instagram:
@contosaleatorios12
Por
hoje é só, pessoas!! 💁
Próxima
postagem trarei a vocês os escritos de uma aluna queridíssima, presença
constante no meu Clube da Leitura... Não percam!! 😄👏
E
não se esqueçam, queridos alunos e ex-alunos! Têm textos para me mostrar?
Compartilhem comigo! Mandem mensagem em privado e vamos conversar! Vou adorar
divulgar o que escrevem! É só me procurar lá no Instagram: @camilla.yoshico
Fico
por aqui!! 💟
Beijo
grande, gente! 😘
Até
a próxima! 👍
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